sexta-feira, 25 de novembro de 2011

20 anos em cima da máquina de costura

Duas costureiras de Bauru, duas visões, dois públicos, dois mundos. Em comum, o tempo de serviço e a felicidade em costurar.


Simplicidade á toda prova

Maria de Lourdes em frente a sua casa
 e a seu ateliê. Imagem: Isabel Minaré

Foi numa manhã de um sábado alegre, com o sol estalando no céu sem nuvens de Bauru, que fomos de encontro ao bairro Ferradura Mirim, localizado na periferia da cidade. Saímos atrasadas para pegar o ônibus. Durante a espera para pegá-lo, uma senhora chegou e ficamos conversando. Gentil, nos recomendou o momento certo de “puxar a cordinha”. “Ó, o ônibus chegou”, foi seu sinal de alerta.

O trajeto foi um pouquinho longo. Nossa “colega” desceu antes de nós, mas deixou seu sorriso como despedida. Dois pontos depois, já estávamos no Ferradura. Perdidas, ficamos pensando onde ficava a costureira que nos falaram. “Nos encontramos” quando vimos o ponto de referência: a loja de ração. Na esquina é a casa da costureira.

Maria de Lourdes Oliveira trabalha há vinte anos com costura. Nasceu em Pernambuco, morou em São Paulo e veio para Bauru, sempre costurando. “É o que eu gosto de fazer. Já tentei sair fora, trabalhar em outro serviço, mas não consigo. Volto para costurar de novo. Não adianta!”, diz rindo.

Ela atende mais os pedidos dos moradores do bairro, mas também tem clientes de fora. Faz roupa social e consertos (barra, zíper, ajuste). Copia modelos de revista, de desenhos no papel e até inventa alguns. Dificuldades? Não tem, mas conta que é preciso ter muita paciência e boa visão: “A costura não puxa pelo físico, mas pela mente da gente. É mais a mente e a vista da gente. Tem que usar óculos, principalmente”.

Maria de Lourdes gosta muito de trabalhar no Ferradura, pois “o pessoal é tudo gente boa, paga direitinho e nunca deu o calote”. No final da conversa, seu marido, dono da loja de ração, que passou o tempo todo nos observando, disse na hora da foto: - Não tenha medo do retrato, você é muito linda, meu amor!”. Depois desse elogio, não tinha como não terminarmos a entrevista felizes.


Cristais de Swarovski e de alegria


Daminhas também têm espaço no ateliê da Rose.
Imagem: Isabel Minaré

“Ganhei o dom da minha mãe. Ela faleceu e o dom ficou pra mim”. É assim que Roselaine da Silva, a Rose, me apresenta ao seu trabalho. Costureira há vinte anos, Rose inaugurou seu ateliê com poucas roupas que tinha em casa. Lá ela aluga tanto vestidos de festa, comprados em São Paulo, como de noiva, confeccionados por ela mesma.

Os modelos saem das páginas da revista e, posteriormente, ela troca ideias com as clientes para ‘dar a cara ideal para aquele corpo’. “Antigamente todos faziam seus vestidos e ás vezes tinha até medo de emprestar de alguém porque diziam que a sorte do casamento passava para a outra”, conta rindo. “Hoje já não tem mais essa superstição e as pessoas alugam. Aquelas que têm mais condição fazem o primeiro aluguel”, completa.

Rose, seu netinho e as criações dedicadas
ás noivas. Imagem: Isabel Minaré
Seu preço varia de R$ 400,00 a R$4500,00. Os mais caros contam com rendas e pedras, como os cristais Swarovski. Rose explica que, além da matéria-prima, o valor está agregado ao fato de ser “vestido de noiva”: “Você ganha R$ 1000,00, R$ 1.200,00, R$ 1.500,00 em cima dele”, argumenta. Além disso, ele é “sob medida”, feito para aquela pessoa.


Rose fez o curso de Corte e Costura e aprendeu o ofício no ateliê de outros estilistas da cidade. Ela confessa que para trabalhar com Moda é preciso ter alguns valores: “A costura me deu e requer muita paciência. Se não tiver paciência e amor, é muito difícil continuar”.

A costureira, que já foi para França, Portugal, Espanha e Inglaterra, resume seu amor pela profissão: “Quando pego um vestido de noiva para fazer, eu me delicio porque ele não é uma roupa costumeira que você vai à loja comprar todos os dias. É uma cerimônia que é um decreto de Deus na Terra. É um casamento, uma oficialização de duas pessoas que se juntam, que se amam”, finaliza.

Nenhum comentário:

Postar um comentário