Fernanda Alonso de Le Retrô |
Quando Nanda Alonso entrou no “Cafézinho”, em Bauru, usando um simpático vestido verde (de sua própria coleção) e sorriso estampado no rosto, para conversar com a gente, pensei “Nossa, mas ela é tão novinha!”.
Logo de cara, quisemos saber a idade dela: 28 anos. Era um pouco mais velha do que aparentava, mas ainda assim muito jovem. Cheia de idéias e experiências!
“Eu não me lembro, na minha vida inteira, de um dia ter pensado em fazer outra coisa”, foi assim que Nanda justificou a escolha pela profissão. Na família, não existem comerciantes ou empresários que sirvam de modelo para a jovem. A não ser o bisavô, que era alfaiate, e a mulher dele, a bisavó de Nanda, que ajudava com as costuras. Pessoas que ela nem conheceu. “Minha família que fala ‘Ah, você tem o sangue do vô Gabriel!’”, contou orgulhosa.
Bom, a conversa com Fernanda Alonso Moreira, nascida em Bauru mesmo, rendeu umas duas horas. E terminou com café, claro, e uma conversa humorada sobre um vestido de noiva!
Primeiro... Por que Le Retrô?
Porque eu gosto do estilo de moda retro. Como é das décadas passadas, você pode usar tudo, não fica limitado a nada. Eu gosto de francês também. E como tem tudo a ver com moda, queria dar uma “afrancesada” no “Retrô”.
Você faz moda feminina adulta e tem uma parte para crianças, meninas. Qual o motivo?
O feminino nasceu antes do infantil. O infantil só faz dois meses que eu faço. O feminino porque, potencialmente, a mulher é muito mais consumista que o homem. Então, foi por isso, pra girar mais rápido. E, depois, a criança, porque é o que eu entendo, é o que eu sei. Eu queria começar com alguma coisa mais firme. Achei que o feminino, para mim, era mais fácil. Eu quero ainda fazer o masculino, tanto no infantil, quanto no adulto. Só que eu acho que cada passo tem que se firmar de uma vez.
O que é difícil e o que é fácil para fazer a sua moda?
Como eu sempre gostei de Moda, para mim, é muito fácil a parte da criação. E o mais difícil para mim é a administração. É uma coisa que eu estou aprendendo muito, porque é um pouco deficiente nas disciplinas, não tem tanta ênfase na faculdade de moda pra que você seja uma administradora de moda.
Você tem uma equipe?
Não, eu trabalho sozinha. Eu faço todo o processo de criação. E é um processo de criação artesanal, porque as peças são exclusivas. Então, eu faço tudo, desde a hora que eu vejo um tecido, que eu imagino que aquele tecido vai ser certa peça. Depois, eu faço a modelagem, eu corto, aí eu mando para a costureira. Não tenho uma equipe, mas tenho as costureiras, que são terceirizadas. Depois, a peça volta para mim, fechada, e aí eu pinto, mancho, faço aplicação, o que precisar do pós-costura. E aí a parte de vendas... Eu faço tudo!
E de onde vem sua matéria-prima?
De São Paulo. Eu compro tudo em São Paulo.
E como é sua participação em feiras?
Minha maior fonte de renda são as feiras. Eu faço feira da Benedito, que são as feiras fixas. Eu já fiz Mercado Pop. E A Qualquer Coisa - foi a minha mais forte. Mas eu também faço feiras de bairros, que são as feiras de artes, que são esporádicas. Então, a Feira do Brooklin, Vila Madalena, Pompéia, o que vai tendo no calendário do ano.
E como funcionam essas feiras? Você tem um stand?
As feiras fechadas, que são as fixas, são stands. E as feiras de rua são as barracas. Geralmente, as feiras de rua são só de um dia. No Brooklin são dois, mas as outras feiras são sempre de um dia. As fixas... O Mercado Pop são sempre todos os dias e A Qualquer Coisa, aos sábados.
Como surgem as oportunidades de trabalhar nas feiras?
As feiras de rua são mais fáceis, porque, geralmente, só tem que ir no começo da abertura de inscrição que você consegue. As feiras fixas são mais difíceis, tem feira que eu já fiquei mais de um ano esperando. E tem feira que eu ainda estou esperando, já faz mais de um ano que eu estou na lista de espera. Então, você fica na lista de espera, geralmente, uns três meses antes de ser o “seu” mês, porque são contratos mensais, a responsável pela feira te chama, conhece seu produto.
Aprovado através de portfólio?
Não, é pessoal, você leva as peças, também porque eles querem ver qualidade. Geralmente é a consultora de feira quem faz isso. Eles conhecem o produto e já te falam na hora se você está aprovado ou não.
Seu lucro é de quanto?
Varia muito de feira para feira. Depende da quantidade de peças do infantil e do adulto. Meu lucro é maior no adulto do que no infantil. Aí, depende se vende mais uma ou outra. Não tenho uma média. Em feira, fixa, dá mais pra ter uma média, porque soma os sábados e divide por 4. Mas as de rua variam batante, se chove, se não chove, aquela coisa. E São Paulo tem isso, né? Tudo é garoa... (risos)
Qual o valor mínimo e o valor máximo das suas peças?
O infantil não varia muito, de 49 a 65 reais. E o adulto varia mais um pouquinho, tem as peças básicas, batinhas... De R$ 29 até os vestidos longos, sempre despojados, eu não trabalho com festa, que chegam a 200 ou 230 reais.
Como são as vendas?
Tem a lojinha on-line. A principal fonte são as feiras. Mas também como é pequeno, ainda, tem muito boca-a-boca, tem as amigas, tem as amigas das amigas... Tem uma amiga que usa uma peça, daí a amiga dela gostou. “Ah, vamos fazer uma reuniãozinha em casa”, daí eu levo as peças, a gente faz um chá...
Hoje, você consegue sobreviver com a renda do seu trabalho?
Só com a renda do meu trabalho. Não é que “Nossa! Como ganha dinheiro!”, mas para me manter, dá.
Você sentiu dificuldade de trabalhar no interior?
Não, para mim é muito bom porque tem qualidade na mão de obra, não é uma mão de obra cara, então, posso fazer toda a minha produção aqui. Essa é a minha maior vantagem. E vender, realmente, eu não vendo tanto aqui. Vendo lá, porque também já tenho um histórico de feira muito grande, então já entrei com tudo pronto, né?
Você sempre se considerou uma empreendedora?
Sempre. Nunca quis trabalhar na ZOOMP, na Fórum, nem na Chanel, sabe? Sempre pensei que queria ter minha própria marca. Talvez porque eu pudesse fazer mais diferença no mundo com a minha marca.
Dinheiro mesmo, você investiu?
Investi. Não fiz empréstimo. Em uma das empresas que eu trabalhava, eu tinha percebido isso, que a dona pagava tudo à vista. Eu via que tudo o que ela colocava a mão virava ouro (risos). E eu achei que uma das coisas para dar certo era isso: pagar à vista. Mas não precisei de tanto dinheiro porque, por exemplo, de maquinário, eu não tenho nada. É tudo terceirizado. É tudo arte feito, né? É tudo manual...
Além disso, você foi procurar o Sebrae, algum livro a parte?
Não, eu tive uma ajuda, porque meu pai é contador, então, ele que me ajudou um pouquinho com essa parte de administração. Ele que abriu a empresa para mim. No dia-a-dia de empresa, como administrador, é muito simples. São várias tabelas de Excel, tenho uma planilha de entrada, uma planilha de controle de saída, meu planejamento de quanto eu vou precisar produzir, então quantas peças são, quanto vai ser esse encaixe, quanto vou precisar gastar. Então, eu vejo quanto entrou... Faz um mês pelo outro, né? O tanto que eu ganhei mês passado é o tanto que eu vou gastar mês que vem. O mês que eu estou é como vazio, não conta.
Sobre o vestido de noiva...
- Começou assim, dei uma idéia de vestido e ela (amiga que vai se casar) não encontrou. Aí, “você que deu a idéia, você tem que fazer (o vestido). Então vamos fazer, vamos comprar tecido.” E foi super legal, foi uma experiência super tranqüila, porque ela é super aberta, daí a gente escolheu o tecido juntas, eu gostei do mesmo que ela gostou. Mas é caríssimo tudo de noiva! E só por ser branca a mesma renda que preta é 100, branca é 300 reais. Mas eu estou gostando, estou aprendendo. É diferente de quando fiz TCC (vestido de noiva). Eu só desenhei e mandei para a costureira. E agora eu estou fazendo, estou cortando... Viajo para Agudos todos os dias, minha costureira é de lá.
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