O ateliê de Milka fica na sua própria casa. Imagem: Isabel Minaré |
“Tarde, toda tarde vai fiando/ A costureira no silêncio a costurar/ Noite no bordado, vem chegando em retalho/ E põe suas estrelas no lugar/ Moça, toda moça tá se vendo/ Nessa elegância no cabide a balançar/ Diga quanto custa, na cintura bem se ajusta,/ Que é pro meu rapaz se admirar”. Esses trechos são da música A costureira, de Dominguinhos, e ilustram bem nossa personagem de hoje.
São 59 anos em cima de uma máquina de costura. Aos 12 fez seu primeiro vestido de noiva. Há pouco tempo, a história se repetiu e a filha dessa cliente a procurou para que pudesse fazer o vestido do casamento dela.
Bronca da mãe, apoio do pai
Foi quando morava na fazenda que teve contato com a moda. Pegava as roupas velhas da família e as transformava em novas. “Minha mãe danava comigo, falava que ia estragar a máquina. Meu pai dizia que se estragasse, ele mandava concertar”. Por conta disso nunca teve medo de cortar e costurar tecidos. E nunca estragou nada.
Viúva aos 35 anos e com dois filhos, Milka de Freitas passou por várias épocas da Moda, desde o reinado de Dener na Alta Costura até a multiplicação das grandes confecções. “Nesse período muitas costureiras como eu pararam porque não tinha serviço. Eu não, dei continuidade”.
Hoje recebe encomendas com até seis meses de antecedência. Vestidos de noiva, de debutantes, de formandas, de mãe de noivos são suas especialidades. “Tenho um molde que chamo de Zero Zero. Ele é manequim médio, que corto para gorda, magra, para qualquer um, qualquer modelo”.
Maria de Nazaré e São Geraldo estão presos na máquina de costura para proteger Milka. Imagem: Isabel Minaré |
A noiva, o vestido e a Coca-Cola
Milka conta uma história que marcou a carreira dela: "A noiva já chegou pronta, foi ao banheiro e depois tomou um copo de Coca-Cola. Pegou o copo e levou para o quarto. Colocou em cima da penteadeira. Falei para não colocar o copo ali. Usava anáguas muito armadas e a hora que ela virou, a Coca-Cola caiu na saia. Foi aquele susto! Minha irmã chegou e já pedi para ela olhar o vestido para ver se tinha solução. Era a noiva mais calma que já vi. Minhas netas eram pequenas e chegaram na porta. Falei para elas irem embora. A noiva disse que não precisava, que as crianças eram anjos. Pensei em tirar um pouco da anágua. Minha irmã veio, o colocou numa mesa e começou a passar com um pano úmido. Ficou limpinho".
Sua roupa mais cara custou R$1.200,00. As clientes a conhece ‘na base do boca-a-boca’. “Aquela revista (JM Magazine) me ligou me convidando para fazer propaganda. Agradeci e falei que não queria. Continuo aqui na minha simplicidade”. Quem conhece a costureira, sabe que ela é realmente uma pessoa muito simples: “Meus filhos falam que tem dó das minhas freguesas porque chegam aqui e me vê toda desarrumada e elas podem não acreditar no meu trabalho”.
Milka acredita que costurar é um dom: “Eu interpreto como um dom. Quando vejo os vestidos prontos, principalmente os trabalhosos, penso que é a mão de Deus segurando a minha mão. É o meu trabalho, meu ganha pão”.
Vestido feito por Milka está a venda. Imagem: Isabel Minaré |
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