domingo, 27 de novembro de 2011

Minha roupa, minha namorada

O largo sorriso é o 'cartão de visitas' de Sônia.
Imagem: Isabel Minaré


A gente aperta a campainha e espera. O tempo quente de Uberaba, Minas Gerais, apressa a vontade de sua chegada. Ouvimos passos, mas não vemos nada além do muro alto e do portão marrom. Ela destranca a porta e com aquele largo sorriso diz: “Oi, tudo bão? Vamo chegano que o sol muito forte. Entra, fica á vontade!”. Assim sou recebida por Sônia Aparecida Soares Gomes, a costureira que há 47 anos faz a felicidade dos outros passar por suas mãos.

“Menina de tudo”, como ela mesma define, estreou na costura. Começou e nunca parou, pois gosta mesmo do que faz. Nada a atrapalha, nada é difícil. Ela se realiza com seu trabalho. “Minhas clientes falam que eu namoro a roupa que faço. A hora que vou colocá-la pronta no pacote, já olho como se fosse minha. Eu mesma falo que ficou linda, maravilhosa”. E se despede, pronta para outro serviço. E outro namoro.


Rotina de amor, família e trabalho

O ateliê abre ás oito da manhã. Abre a janela, liga o rádio, vê que tecido pegar e vai costurar. Pausa para o almoço, depois retoma. Quando os três filhos chegam, ás seis da tarde, pára outra vez para o cafézinho e também para colocar o papo em dia. Saber deles, escutá-los, perguntar da vida, orientá-los. Enfim, ser mãe. E depois, volta para o ateliê. Já aconteceu de passar doze horas no seu cantinho. Hoje diminuiu o ritmo, “nove já estão de bom tamanho”!

Aos 14 anos fez o curso de Corte e Costura, famoso para quem queria seguir na área. Já foi modista e experimentou a Alta Costura. Faz qualquer tipo de peça, seja blazer, vestido de festa e até fantasia. “Cada dia a gente vai praticando mais e melhorando a qualidade”. Deve ser esse o segredo para ter conseguido, em média, 80 clientes. São tantas encomendas que ela não trabalha para quem já não conheça. Ela não está interessada em fazer novas clientes. “É muito difícil eu pegar porque senão é mais uma para minha clientela e eu não dou conta”.

Sônia nasceu em Barretos, foi para Santa Helena de Goiás, voltou para Barretos, de lá para Ribeirão Preto e chegou a Uberaba. “Em todo lugar sempre fui cheia de clientes. Qualquer trabalho bem feito, você faz uma freguesia rápido”. Com tanto serviço não sobra tempo para prestar atenção nos figurinos das novelas nem no que ‘está usando’ nas ruas. “Muitas vezes elas me telefonam e pedem para eu ligar a TV para ver determinada roupa e desenhar. Depois elas vêm e perguntam se vão ficar bem naquele modelo e qual tecido comprar”.


Do filme direto para o corpo

Com tantos anos de profissão, sempre tem um roupa especial: “Fiz um vestido vermelho do filme 'Uma Linda Mulher'. A cliente me trouxe o vídeo e fiz a roupa dela. Ela parou o vídeo e fiz igualzinho”. Comparando a Moda daquela época com a de hoje, Sônia acredita que tudo está mais bonito, versátil e diferente. “A Moda está muito misturada. A gente mistura, coloca renda, zíper e a roupa fica maravilhosa”. É assim que reaproveita as sobras de tecidos e pratica a sustentabilidade.

Sônia tem seu ateliê anexo a sua casa, mas nunca permitiu que sua vida particular afetasse seu trabalho. “Tenho uma cliente que fala que sou atriz. Ela nunca me viu de cara feia, mesmo com tantos problemas. Pode ter acontecido o que for na minha casa, mas no meu quartinho sou outra pessoa”. E lá se dedica a “fazer o seu melhor”, todos os dias. “Eu entrego uma roupa bem feita, sou muito caprichosa, gosto de roupa bem acabada. Gosto da roupa bonita, que você veste e sente bem. Eu fico satisfeita e realizada”. E com sua alegria, vai vestindo as pessoas e as fazendo felizes.

Julia Roberts e Richard Gere em 'Uma Linda Mulher'.
Imagem: Divulgação

Nenhum comentário:

Postar um comentário